quarta-feira, 15 de abril de 2015

Pertences e destroços continuam no local da tragédia com 51 mortos Laudo pericial deve ser entregue na tarde desta quarta-feira (15) em SC. Ônibus de turismo caiu em ribanceira na SC-418, no dia 14 de março.

acidente de ônibus em campo alegre, serra dona francisca, mortos (Foto: Jean Mazzonetto/RBS TV)
Um mês após a tragédia que deixou 51 mortos e outros 8 feridos no Norte de Santa Catarina, ainda é possível ver destroços do ônibus de turismo e pertences pessoais das vítimas na Serra Dona Francisca. Nesta terça-feira (14), a equipe da RBS TV esteve no local e pode observar a condição do lugar (veja o vídeo acima).
Cerca de 100 metros abaixo da SC-418, roupas e objetos pessoais das vítimas se misturam aos destroços do veículo. Tiaras, mamadeiras e outros objetos continuam espalhados no local.
As causas do acidente ainda são uma incógnita. Nesta quarta-feira (15), o Instituto Geral de Perícias deve entregar os laudos feitos no veículo. Os resultados devem apontar velocidade aproximada, o momento em que o veículo saiu da pista e outras informações que devem ajudar a esclarecer o que, de fato, aconteceu.
acidente de ônibus em campo alegre, serra dona francisca, mortos
Acidente aconteceu depois de uma curva

Por causa disso, o inquérito que apura as circunstâncias do acidente na SC-418, ainda não foi concluído. O delegado responsável pela investigação, Brasil Guarani dos Santos, irá pedir prorrogação do prazo.
Inicialmente, a data limite para conclusão seria nesta quarta. "A prova pericial, em conjunto com as demais provas que foram produzidas nos autos, elas serão todas analisadas para poder dar uma direção ao que realmente aconteceu", explica.
Para os familiares das vítimas, cartas de estudantes paranaenses ajudam a confortar - nem que seja um pouco - a falta dos que se foram. Sebastião Araújo perdeu sete familiares. Ele se emociona ao falar da importância deste gesto. "É muito importante. Se não fosse isso aí, eu não sei se a gente não resistiria. Eu não resistia", desabafa o morador de União da Vitória (PR).
Veja o que se sabe e o que ainda deve ser esclarecido sobre o acidente:
O inquérito foi concluído?
O inquérito foi instaurado no dia seguinte ao acidente e, inicialmente, tinha prazo de 30 dias para ser concluído. O delegado Brasil Guarani, responsável pelo caso, afirmou ao G1 que pedirá a prorrogação do inquérito para concluir os trabalhos.
Todos os corpos foram localizados?
Sim. O último corpo foi retirado mais de 24 horas depois do acidente. Anderson Celis estava na parte de baixo do ônibus e só foi achado quando o veículo foi erguido. Das 51 vítimas identificadas pelo IML, 15 eram homens, 20 mulheres, cinco adolescentes e 11 crianças.
A polícia conseguiu ouvir todos os sobreviventes?
Sim. A polícia conseguiu tomar depoimentos de seis dos sobreviventes – os outros dois são crianças pequenas, já liberadas de hospitais. O delegado Brasil Guarani, responsável pelo caso, viajou na semana passada a União da Vitória (PR) para colher os últimos depoimentos, um deles no hospital.
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O que contaram os sobreviventes?
O delegado responsável pelo caso afirmou ao G1 que prefere preservar o conteúdo dos depoimentos até que seja divulgado o resultado da perícia, mas os primeiros relatos sugeriam falha mecânica, uma das hipóteses aventadas. À RBS TV, um dos feridos, um rapaz de 17 anos, relatou pânico dentro do ônibus. "A gente estava descendo a serra, aí eu vi que o motorista ultrapassou uma carreta na Serra. Só que já estava sem freio o nosso ônibus. Aí vi que o ônibus começou a embalar mais e a minha mãe falou assim: segura no banco, filho, que vai faltar freio, não tem freio no ônibus", contou Lucas Vieira.
Como estão os feridos?
Um mês após o acidente, duas pessoas continuam hospitalizadas. Em Joinville, a última pessoa internada em Santa Catarina, um bebê, teve alta na quinta-feira (9). Ele perdeu a mãe no acidente, de acordo com o Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria. Elis Cristina Mazur, de 20 anos, foi transferida para União da Vitória (PR) e segue internada na Associação de Proteção a Maternidade e a Infância. O quadro dela é estável, de acordo com o hospital. Rosângela Aparecida de Souza Linhares, de 36 anos, também foi transferida para União da Vitória e está na enfermaria do Hospital São Camilo.

O que aconteceu na hora do acidente?Ônibus passou por cima de guarrail (Foto: Reprodução/RBS TV)
Somente com a divulgação dos laudos da perícia médico-legal e da parte de engenharia, que estão a cargo do Instituto Geral de Perícias  (IGP) de Joinville, será possível estabelecer com mais precisão as circunstâncias do acidente. O que se sabe, de acordo com relatos de testemunhas e sobreviventes, é que o ônibus estava numa velocidade bem acima da estabelecida para o trecho de curva, de 30 km/h. O ônibus não conseguiu fazer a curva no km 89 da SC-418 e saiu da pista. Possivelmente o guard-rail serviu como uma rampa: o ônibus se lançou por cima da copa das árvores e caiu em uma ribanceira de uma altura de cerca de 50 metros.

O ônibus tinha autorização para fazer a viagem interestadual?
Não. De acordo com a ANTT, foi emitida autorização para que um ônibus da empresa viajasse de União da Vitória (PR) para Guaratuba, no mesmo estado. O motorista, porém, decidiu cortar caminho passando por Santa Catarina.
Havia excesso de passageiros?
Tudo indica que sim. De acordo com as primeiras afirmações do Instituto Geral de Perícias (IGP), logo após o acidente, sabia-se que a lista dos passageiros era inferior ao número de pessoas que estavam no ônibus – 59, considerando os 51 mortos e os 8 sobreviventes. É possível que crianças tenham viajado no colo dos pais, de acordo com a investigação. Ainda assim, pelo menos duas pessoas estariam viajando em pé. Após o acidente, a PMRv emitiu uma autuação sobre excesso de passageiros, segundo a Polícia Civil.

Por que havia excesso de passageiros?
De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o grupo saiu de União da Vitória (PR) com dois ônibus menores para levar pessoas que participariam de um evento religioso no litoral paranaense. Porém, no caminho, um dos veículos apresentou problemas mecânicos. Como não foi possível solucionar, um ônibus maior foi chamado e juntou os passageiros dos dois veículos.
Em outubro de 2014, o menino comemorou o aniversário de 6 anos com os padrinhos (Foto: Reprodução/Facebook)
Menino de 6 anos e casal de padrinhos morreram
no acidente (Foto: Reprodução/Facebook)
Em outubro de 2014, o menino comemorou o aniversário de 6 anos com os padrinhos (Foto: Reprodução/Facebook)
Os passageiros usavam cinto de segurança?
Os primeiros indícios apontam que não, e essa é uma das respostas que devem sair da perícia. Segundo o responsável pela investigação, delegado Brasil Guarani, da Delegacia de Delitos de Trânsito de Joinville, o ônibus da Costa & Mar Turismo foi fabricado no fim dos anos 1980, quando o equipamento de segurança ainda não era obrigatório. Porém, os proprietários desse tipo de ônibus devem instalar cintos para poderem circular. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por fiscalizar e regular serviços de transporte interestadual de passageiros, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece a obrigatoriedade de cinto de segurança nos ônibus fabricados a partir de 01/01/1999. A falta do uso do equipamento de segurança é considerada uma infração grave, com retenção do veículo até que todos afivelem o cinto, segundo a ANTT. A multa, de toda forma, deve ser emitida em nome do condutor do ônibus. A própria agência estima, porém, que apenas 2% dos passageiros usem cinto em viagens interestaduais.

O motorista passou mal?
Somente os exames necroscópicos, a cargo do IGP, poderão determinar se o motorista sofreu um mal súbito, por exemplo. O que se sabe, de acordo com relatos à polícia, é que ele havia passado a madrugada anterior acordado, tentando consertar o outro ônibus que quebrou.

Houve falha mecânica?
Os primeiros depoimentos de sobreviventes à polícia sugeriram que o ônibus pode ter tido uma falha mecânica, mas essa é apenas uma das hipóteses levantadas pela polícia, segundo o delegado Brasil Guarani. Um dos feridos contou no dia seguinte ao acidente que o ônibus estava sem freio. O enteado do motorista, Marcos Antonio Gaias, afirmou em entrevista à RBSTV que a manutenção estava em dia. “Foi verificado do freio à suspensão, toda a parte mecânica”.
Com a morte do dono da empresa, quem responderá pelo acidente?
De acordo com o delegado Brasil Guarani, ainda não é possível apontar um culpado para o acidente. “Até o momento não é possível responsabilizar o dono da empresa, que conduzia o veículo, nem qualquer outra pessoa. É preciso aguardar o laudo da perícia”. Ele explica que, de acordo com a legislação penal, quando o responsável por um crime morre, ninguém mais pode ser responsabilizado criminalmente. Sobre a responsabilidade civil, o delegado diz desconhecer a existência de um sócio da empresa.Serra Dona Francisca foi aberta em 1858 (Foto: Prefeitura de Campo Alegre/Divulgação)
 A Serra Dona Francisca tem 15 curvas na estrada – no local onde houve o acidente, a velocidade máxima permitida é de 30 km/h. Engenheiros que atuam em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), funcionários do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) e o presidente da Associação dos Usuários das Rodovias de Santa Catarina (Auresc), Sérgio Pöpper, são unânimes ao afirmar que o estado da pista do trecho da Serra Dona Francisca é adequado por ser de concreto, mais aderente e apropriada a uma rodovia em serra. Porém, o próprio Deinfra reconhece que há problemas de sinalização.
O que foi feito na Serra Francisca no último mês?
Nos últimos 30 dias, foram feitos trabalhos de roçadas, para melhorar a visibilidade de placas cobertas pela vegetação. Um projeto de revitalização do trecho foi elaborado por engenheiros do Deinfra após o acidente e concluído na semana passada. O projeto prevê algumas medidas para melhorar a sinalização horizontal e vertical na Serra Dona Francisca, com colocação de tachinhas em faixas contínuas, indicando a impossibilidade de ultrapassar. Também estão previstas faixas emborrachadas horizontais de controle de velocidade, reforço nos guardrails e placas refletivas de contagem regressiva antes das curvas. O projeto não tem prazo para ser concluído e deve priorizar, num primeiro momento, as quatro curvas mais perigosas, incluindo a do acidente de março. A Associação dos Usuários das Rodovias de Santa Catarina (Auresc) está fazendo um abaixo-assinado para pedir que o governo instale muros de proteção para veículos grandes na Serra Dona Francisca, o que não está contemplado no projeto.

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