quinta-feira, 14 de maio de 2015

Crise na Petrobras faz minguar patrocínio para o cinema brasileiro

Cena de "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", um dos cerca de 500 filmes que contaram com recursos da Petrobras de 2003 a 2013
Cena de "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", um dos cerca de 500 filmes que contaram com recursos da Petrobras de 2003 a 2013
"O cinema brasileiro já não conta mais com os recursos da Petrobras", lamenta André Sturm, empresário cultural, gestor do Cine Caixa Belas Artes e dono da distribuidora Pandora Filmes. A redução da receita, a queda nos lucros e escândalos de corrupção da companhia podem impactar fortemente a indústria cinematográfica no Brasil, prevê o setor.

O UOL conversou com diretores e produtores para entender os desafios que o cinema brasileiro enfrenta. A Petrobras, que sempre foi considerada a grande patrocinadora das artes no Brasil, poderá reduzir ao máximo a verba para patrocínio, especialmente para projetos audiovisuais e festivais de cinema. O resultado já está sendo sentido: os últimos editais nacionais foram abertos pela empresa em 2012 e não se sabe se haverá chamados este ano.

A estatal é alvo de denúncias de corrupção e estima em R$ 6,194 bilhões as perdas com pagamentos indevidos e desvios descobertos pelas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Ela também viu reduzir o valor de seus bens em R$ 44,3 bilhões.

A empresa registrou um prejuízo de R$ 21,587 bilhões em 2014, em comparação ao lucro de R$ 23,57 bilhões obtido no ano anterior. A crise na companhia custou o cargo da então presidente Graça Foster e de outros cinco diretores, que renunciaram em fevereiro. Em março foi divulgado ainda um plano de "desinvestimento", com a intenção de vender algumas unidades e levantar US$ 13,7 bilhões entre 2015 e 2016.

"Na hora que a Petrobras deixou de ter lucro, deixou também de haver incentivo para a cultura. Não foi a Lava Jato em si que causou o fim do programa [de patrocínio], foi a queda de faturamento e de lucro", explicou Sturm, que também é diretor executivo do MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo).

Fim dos editais públicos

As críticas ao baixo incentivo ao cinema vão além dos escândalos de corrupção. "Há pelo menos dois anos a Petrobras não faz mais o edital de apoio à produção de cinema. Esta era uma das principais áreas em que a empresa investia. O cinema brasileiro tinha virado sinônimo de Petrobras", disse Sturm.

Ele lembra que era comum filmes terem a vinheta de abertura com o logotipo da estatal antes da exibição nas salas de cinema. "Era uma marca que a Petrobras criou como grande apoiadora do cinema brasileiro. Isso tinha começado há muitos anos", destacou.

O edital a que Sturm se refere é o Programa Petrobras Cultural, lançado em 2003 como a maior ação de patrocínio à cultura do país. Desde então, por meio de chamadas públicas, a empresa patrocinou mais de 3.500 projetos, destinando R$ 2 bilhões para a cultura. Deste valor, R$ 1 bilhão foi recurso incentivado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e R$ 980 milhões em recursos próprios, até 2013. Nesse período, cerca de 500 filmes contaram com o apoio da empresa.

A última vez em que a Petrobras abriu uma seleção pública nacional foi em 2012, ano em que destinou o maior volume de recursos na história do programa –R$ 67 milhões para 133 projetos aprovados. O maior montante --R$ 25 milhões-- foi repassado para o setor audiovisual.

"A Petrobras foi fundamental no ressurgimento e desenvolvimento do cinema brasileiro com uma produção grande, de 20 a 30 filmes por ano. O cinema nacional passou a fazer sucesso com reconhecimento de público e crítica", comentou Sturm.

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